Queria escrever um poema
que não dissesse nada.
Nada nele seria informação
aos olhos inquisidores da razão.
Meus versos seriam feitos de silêncio,
desses que só o coração é capaz de ouvir.
Sem léxicos complexos de erudição,
sem aforismos lucubratórios ,
sem o peso das pseudoverdades
que fazem do cérebro um deus.
Minhas palavras não seriam palavras
e meus significados, apenas cores,
como são os amores e as dores.
Nada a dizer,
mas a sentir sem assentir,
apenas por viver e querer
nada além do não querer.
Um olhar de amanhecer
às mais pequeninas estrelas
aconchegadas ao céu das emoções.
Queria que meus versos falassem
a língua dos amantes felizes
das crianças alegres
das mães que acalentam com o maior carinho
do mundo.
Queria não ter que escrever
para tentar dizer o indizível.
Mas assim, mesmo assim,
queria que no fim, de tudo
ao pouco que me cabe, quem sabe,
deixar os versos que levem adiante
essa ternura ululante que não se detém
e dança comigo, errante e esperançosa,
em cada lacuna do meu pensar.JPJ
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